Cera BTMS na Cosmética Natural

Outro assunto que veio à tona causando polêmica, cera BTMS pode na cosmética natural???

Bom, se você já é minha/meu seguidor(a) fiel, já deve ter lido aquele post sobre a cera Polawax na cosmética natural e os por quês… Se ainda não leu, clique AQUI.

Vou repetir alguns detalhes, mas não quero ser muito redundante… Na cosmética natural, como o nome já diz, usamos ingredientes naturais, ou seja, é bem abrangente com o uso de matéria-prima e não segue ordens restritas por certificadoras, como é o caso da Cosmética Orgânica.

A questão é que na cosmética orgânica eles possuem uma lista restrita do que pode ou não conter nesse cosmético e, muitos ingredientes naturais às vezes ficam de fora dessa lista, como é o caso da cera BTMS e Polawax.

Seria como comparar o uso de um milho orgânico e um milho com agrotóxico (não orgânico), entende?

O milho continuaria sendo natural/vegetal e, particularmente, prefiro comer muito mais um milho “não orgânico” do que uma comida enlatada, ainda sim, o milho seria mais natural!


O BTMS na Cosmética Natural

A cosmética natural é bem ampla e não existem leis ou reconhecimento da Anvisa para este tipo de cosmética.

Ou seja, podemos usar muitos tipos de ingredientes naturais com vários tipos de graus (sintético, puro, pouco processado etc).

Apenas a cosmética orgânica se encarrega de reconhecer e certificar os produtos, dos quais são restritos, e entregam um selo de orgânico.

Uma vez entendido e esclarecido isso, vamos então falar sobre a cera TBMS…

O BTMS não é aceito na maioria dos padrões orgânicos devido ao seu processo de fabricação… Vamos lá, mas o que tem a ver o processo de fabricação?

Temos o conhecimento desta cera de 2 formas:

  • BTMS-25 (Amanterquat): INCI: Behentrimonium Methosulfate (and) Cetearyl Alcohol.
  • BTMS-50: INCI: Behentrimonium Methosulfate (and) Cetyl Alcohol (and) Butylene Glycol.

Sobre os ingredientes:

O Behentrimonium Methosulfate é produzido a partir de ácidos graxos obtidos do óleo de colza (óleo de canola) e ainda “quaternizado” por alquilação de aminas terciárias para obter um composto de amônio quaternário. Não é aprovado por certificadoras orgânicas por conta do seu processo de fabricação…

O Cetearyl Alcohol é uma mistura dos álcoois graxos álcool cetílico e álcool estearílico produzidos por catalisadores hidrogenação dos triglicerídeos obtidos dos óleos vegetais, óleo de coco e seguida pela oxidação de um produto de crescimento da cadeia de etileno oligomerizado em um catalisador de trietilalumínio. É aprovado por certificadoras orgânicas.

O Cetyl Alcohol possui 16 carbonos, também conhecido como álcool 1-hexadecanol e palmitil, é um ingrediente comum em uma variedade de produtos de higiene pessoal e cosméticos. É derivado de óleos vegetais, como óleo de palma ou coco. O álcool cetílico é produzido pela hidrogenação catalítica dos triglicerídeos obtidos do óleo de coco e seguida pela oxidação de um produto de crescimento da cadeia de etileno oligomerizado em um catalisador de trietilalumínio. É aprovado por certificadoras orgânicas.

O Butylene Glycol é preparado por hidrogenação catalítica de aldol na presença de hidrogênio e um catalisador de hidrogenação. É aprovado por certificadoras orgânicas.

Segundo o Cosmetic Ingredient Review, o Cetearyl Alcohol e Cetyl Alcohol:

“A segurança do álcool cetearílico, álcool cetílico, álcool isostearílico, álcool miristílico e álcool behenílico foi avaliada pelo painel de especialistas da Cosmetic Ingredient Review (CIR). O Painel de Especialistas do CIR avaliou os dados científicos e concluiu que esses álcoois graxos eram seguros para uso como ingredientes cosméticos. Os dados toxicológicos dos cinco álcoois alifáticos de cadeia longa incluídos neste relatório (álcool cetearílico , álcool cetílico, álcool isoestearílico, álcool miristílico, álcool behenílico) não revelaram toxicidade significativa. Por exemplo, o álcool cetílico não era mutagênico. As formulações contendo esses álcoois graxos não eram irritantes ou sensibilizadores dérmicos. Assumindo que os cinco ingredientes tenham o mesmo grau de pureza, a estrutura química semelhante permite a extrapolação dos dados de um dos álcoois para os quatro restantes.”

Segundo o Cosmetic Ingredient Review, o Butylene Glycol:

“A segurança do butileno glicol e ingredientes relacionados foi avaliada pelo painel de especialistas da Cosmetic Ingredient Review (CIR). O Painel de Especialistas do CIR avaliou os dados científicos e concluiu que o butileno glicol, hexileno glicol, etoxidiglicol e dipropileno glicol são seguros para uso em cosméticos e produtos para cuidados pessoais. O Painel de Especialistas do CIR observou que o butileno glicol pode ser metabolizado e usado como fonte de calorias. Os resultados de estudos de toxicidade oral aguda, subcrônica e crônica indicaram uma baixa ordem de toxicidade para esses glicóis. Os resultados dos estudos de injeção parenteral, inalação e toxicidade cutânea aguda e subcrônica também apoiaram uma baixa ordem de toxicidade.”

Segundo estudos, o Behentrimonium Methosulfate:

“O estudo mostrou resultados indicando potencial de irritação ocular leve. Bem como o controle seria classificado como potencial leve a mínimo irritantes oculares porque causaram menos de 10% de capacidade após a exposição inicial e havia células em recuperação após 24 horas. No entanto, com base na% inicial resultados de permeabilidade, pode-se observar que a invenção causará pouca ou nenhuma irritação nos olhos.”

“Como observado acima, essas misturas proporcionam um alto benefício de condicionamento, além de baixa irritação nos olhos. As composições da invenção podem incluir misturas de methoSulfato de behentrimónio, cloreto de behentrimónio; cloreto de PG-dimônio de behenamidopropyl, behenalkonium cloreto, cloreto de benzoil PG-trimônio; etosulfato de behenamidopro-etildimônio, etilsulfato de isoalquilamidopro-C18-C24, etosulfato de etil-alquil-butil-etil-sulfato de ditenil / diarachidil cloreto de nio, cloreto de dibeenildimio.”

Ele não é considerado um sulfato, pois possui a carga positiva. Para ser um sulfato precisa ter carga negativa e, ainda sim, não são todos de carga negativa que são sulfatos!


Usar ou Não Usar o BTMS?

Bom, em primeiro lugar, os formuladores que consultam os ingredientes pelo EWG estão, em minha humilde opinião, defasados e errados!

O EWG é feito para consumidores que desejam diretrizes para produtos saudáveis, porém o que o EWG não faz é diferenciar os ingredientes do produtos que podem ser semelhantes. Eles agrupam todos eles em uma categoria, portanto, assume-se que todos são ruins…

Como desenvolvedora/formuladora de produtos naturais, isso é frustrante, pois passamos, muitas vezes, inúmeras horas pesquisando ingredientes e formulando muitos produtos com base na segurança.

De fato, é muito melhor pesquisar os ingredientes individualmente, para se ter uma resposta eficaz na sua pesquisa. Saiba mais sobre o EWG AQUI.

Já comentamos em outro post sobre alguns sites para você fazer a busca e pesquisa sobre os ingredientes, se eles são seguros ou não! Sempre faça a busca individual de cada um deles.

Você pode consultar através dos:

Mas então, usar ou não usar o BTMS? Em nossa opinião, usamos e continuaremos a usar, sim.

Por alguns motivos, a maioria dos ingredientes contidos no BTMS (25 ou 50) já são aprovados pelas certificadoras orgânicas, o único que fica em haver é o Behentrimonium Methosulfate que, mostrou em alguns estudos, ser seguro durante o uso e dentro das porcentagens estabelecidas.

Outro estudo também conclui:

“Esta revisão completa e as avaliações de risco prospectivas resultantes de AS, AES, AE e LAS demonstraram que esses surfactantes e os álcoois lineares de cadeia longa, LCOH, embora usados ​​em muito alto volume e amplamente liberados no ambiente aquático, não têm efeitos adversos impacto nos ambientes aquáticos ou sedimentares nos níveis atuais de uso. As avaliações de risco retrospectivas desses mesmos produtos químicos demonstraram claramente que as conclusões das avaliações de risco prospectivas são válidas e confirmam que esses surfactantes não representam um risco para os ambientes aquáticos ou sedimentares.” (leia mais nas fontes)

Esse estudo acima fala sobre os surfactantes e matérias-primas que incluem sulfato de álcool (AS), etoxissulfato de álcool (AES), sulfonato de alquilbenzeno linear (LAS), etoxilato de álcool (AE) e álcool de cadeia longa (LCOH).

Além disso, BTMS é um produto de origem vegetal que, segundo bons fornecedores, não contém etoxilados (verifique com o seu).

O único revés, seria mais com o uso dele aplicado na pele. Produtos para a pele com o BTMS deixam um toque muito convidativo mas, em algumas pessoas, isso pode causar um pouco de alergia em peles mais sensíveis, até pelo fato de permanecer mais tempo em contato.

Nós costumamos usar e criar receitas enxaguáveis com este produto, é mais viável, eficaz e seu resultado é simplesmente perfeito, quem usa sabe do que eu tô falando!

Podemos até fazer uma comparação com o uso do benzoato de sódio e sorbato de potássio que são aprovados pelas certificadoras orgânicas para o uso como conservantes.

Mas ainda assim, existem alguns estudos que mostram que o benzoato de sódio é um ingrediente que foi alvo de uma tempestade na mídia no Reino Unido, quando se descobriu que é cancerígeno quando misturado com vitamina C e que, junto com corantes artificiais, pode causar crianças com TDAH mais hiperativas mas, ainda assim, é permitido pelas certificadoras orgânicas por ser um ingrediente natural.

Agora, se você resolve usar este tipo de ingrediente como conservante (dentro das porcentagens de uso) em uma receita que seja enxaguável, ou seja, que não permanece muito tempo em contato com a pele, é muito bom e eficaz! E ainda você estaria usando um produto que é natural e, de certa forma, está seguro!


Conclusão

Como costumo dizer, segundo Paracelso, o que cura é a quantidade da dosagem, o muito pode matar e o pouco curar.

Então, tudo é questão de dosagem, pesquisa e bom senso. Você saber dosar cada ingrediente para sua cosmética natural é ter o domínio e clareza da alquimia. SEMPRE preze pelo o que é mais seguro nas suas fórmulas!

Como citamos ali em cima, prefira o uso do sorbato de potássio em receitas mais enxaguáveis, assim como o BTMS, isso é ter bom senso e trabalhar com segurança.

Já na cosmética orgânica, as certificadoras ficam mais atentas as questões de contaminações nos ingredientes, bem como seu processo de fabricação.

E você, já usou esta cera? Comenta aqui pra gente!

Fontes:

- https://www.fda.gov/
- https://www.ecocert.com.br/ 
- http://www.cosmos-standard-rm.org/verifmp.php
- https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032017000300465&lng=pt&nrm=iso
- https://www.cosmeticsinfo.org/ingredient/cetearyl-alcohol
- https://cosmeticsinfo.org/ingredient/cetyl-alcohol
- https://cosmeticsinfo.org/ingredient/butylene-glycol
- http://www.dhw-ecogreenoleo.de/ECOCERT.pdf
- https://patents.google.com/patent/US6537533B2/en
- https://patents.google.com/patent/US8778420B1/en
- https://www.ibd.com.br/
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4130171/
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26657255/

Comentários

  1. Amei a postagem! Por via das dúvidas….estou substituindo a btms pela cera de oliva.
    É bem mais cara…mas gosto muito do resultado. O que vc acha sobre a cera de oliva em shampoos e condicionadores sólidos, no lugar da btms?

    1. Leticia

      Oi, obrigada pelo conteúdo e parabéns pelo trabalho.
      Poderia me dizer se ele é seguro para o meio ambiente?

    2. Oii, Josiara! Você se refere a cera de oliva solúvel em óleo ou cera de oliva seria a Olivem 1000? Se for a solúvel em óleo não é um emulsificante de fato, a formulação pode ficar não homogênea (assim como quando usam a cera de abelha para emulsões), mas contém propriedades hidratantes ótimas para o cabelo e pele, sim! Se for a olivem 1000, é uma cera não-iônica que é mais indicada para pele.😉

  2. Fernanda Teixeira

    Olá!
    Obrigada!
    Amei as informações.
    Também tenho as mesmas dúvidas. Se posso trocar pela cera de oliva e se BTMS faz mal ao meio ambiente/oceanos? Ele então não seria biodegradável?
    🙏🏻💚

      1. Fernanda

        Muito obrigada!
        💚🙏🏻
        Mas não temos certeza então se é biodegradável né? ☺️

  3. Carolina

    Olá! Adorei o conteúdo, tenho tido muitas dúvidas quanto ao BTMS e esse texto realmente me ajudou. Gostaria de saber se aqui no Brasil temos fornecedores seguros de BTMS e se você saberia indicar algum.

  4. Juliana Y. Yassuda

    Gostei, muito informativo e educacional ! Já usaram a cera de côco ou a de soja?
    Estou testando a cera de côco para creme corporal, estou tendo bons resultados. Tbm esta sendo utilizado para velas e oleos corporais recentemente. Acera de soja tbm, mas testei para os cremes..

  5. Jomara

    Natural x Produto feito por tecnologia química sem causar danos. A indústria química de insumos cosméticos não pode pela legislação fazer algo que possa ser irritante e tóxico. Natural é direto da natureza…. Estão misturando o não faz mal com natural… E muitas vezes o Natural que não pode ser usado… Como Farmacêutica me assusto com este modismo que estão criando.

    1. Emile Braga

      Para produção de condicionador sólido. A BTMS 25 ou 50 ainda precisa adicionar álcool cetilico ou o que vem na fórmula já é suficiente?

  6. VERA

    Amei usar BTMS!!! Perfeito para condicionador. Acredito na idoneidade dos fabricantes. Até porque, a questão é o Álcool cetilico (de côco) com porcentagem baixa…Que eu saiba, não tem sulfatos, parabenos ou petrolato então, penso ser um produto natural e biodegradável também…

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